terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Os novos fabricantes e a lacuna entre 300cc e 600cc

Em 2010 (*) o Brasil deu o primeiro sinal de retomada efetiva no índice de motos vendidas no ano, com quase 1,9 milhões de motos, recuperando os índices de 2008, antes da crise despencar as vendas. O curioso é que esse é um índice nacional, mas a única região do Brasil que representou todo esse crescimento foi o Nordeste, com cerca de 10% de aumento de vendas, e que representa hoje 36% das vendas de motocicletas no país, ultrapassando o Sudeste. Quase 90% das motos vendidas no Brasil (especialmente no Nordeste) são de até 150cc. Tendência ou não, este índice obviamente ainda é motivo de atenção. Quase todos os 10% restantes representam as vendas de motos até 400cc e acima disso, são 2%.

Bem, um grande fabricante como Honda ou Yamaha não poderia facilmente inserir no mercado uma motocicleta de linha com exatas 450cc para cobrir o espaço vazio que temos hoje. Suas linhas de produção estão ajustadas para cumprir um fluxo de, no caso da Honda, mais de 1 milhão de motos de baixa cilindrada por ano, e interferir nesse fluxo para uma moto que provavelmente venderia 1% disso seria, no mínimo, caro demais. Contudo, a possibilidade de um dos novos fabricantes que hoje não atuam com baixa ou média cilindrada ajustarem a sua linha de produção para essa categoria carente é maior. KTM, Bramont (Triumph), BMW e Ducatti, são marcas mundiais de luxo que estão mirando o mercado brasileiro. Todas elas estão relacionadas a qualidade e desempenho e saber que estão chegando ao Brasil por preços pagáveis causa fervor em qualquer consumidor. A BMW foi eficaz e se adiantou na corrida com a G 650 GS e continuará crescendo a cilindrada com a F 800 R, que chegará logo logo. A KTM foi estratégica e entra em 2011 com a sua 200cc, que não fazia antes. Nenhum desses fabricantes, porém, tem ainda uma linha de produção ajustada para prospecções de tão longo prazo quando as já estabelecidas Honda, Yamaha e outras populares, e a inclusão de um projeto de média cilindrada nesse caso seguramente seria menos conflitiva - e mais lucrativa.

Mas isso parece não estar previsto. Os índices de venda de motos com baixa cilindrada seduzem os fabricantes ao olhar míope dos números atuais. A "nova classe média" brasileira passará os próximos anos consumindo fervorosamente tudo o que lhes puder proporcionar conforto, começando por imóveis, turismo, gastronomia, e logo mais passando para as suas devidas "atualizações" luxuosas, que enfim despertarão o questionamento exigente e a busca por produtos efetivamente diferenciados. Talvez seja o fim da CG, idêntica há décadas. Talvez não. O fato é que as soluções urbanas em um curto prazo darão espaço a scooters ou até motores elétricos, ainda que com a sua sustentabilidade ambiental polêmica no Brasil (uma vez ouvi do meu pai: "Se todos mudarem seus veículos para motores elétricos, que usina brasileira sustentará todo mundo carregando suas baterias ao mesmo tempo?"). De uma forma ou de outra, as necessidades sociais¹ dessa nova classe de consumidores brasileiros em breve estará satisfeita e saturada, e eles passarão a buscar o que lhes proporcione prazer, o que inclui viajar de moto ou simplesmente afirmar a sua diferenciação social por meio de, entre outras exibições, uma moto maior. Esta situação não tardará e quem começar a sua plantação nesse espaço ainda sem dono provavelmente fará uma boa colheita.

* Os dados são da ABRACICLO.
¹ Hierarquia das necessidades - Pirâmide de Maslow

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